FAIRCLOUGH, N. (2006). Language and globalization. London, Routledge. 186 p. ISBN 10: 0-415-31765-7
Resenhado por Viviane de Melo Resende
vivianemelo@unb.br
Em seu último livro, Language and globalization, editado pela Routledge em 2006, Norman Fairclough explora os efeitos da linguagem em processos de globalização, adotando uma combinação da Análise de Discurso Crítica (ADC) com a Economia Política Cultural (EPC), proposta por Bob Jessop, a fim de desenvolver uma teoria da relação entre discurso e outros momentos desses processos, nos termos de Chouliaraki & Fairclough (1999). Nesse sentido, o livro fortalece a relação da ADC com o Realismo Crítico (RC), que já havia sido referida em Fairclough (2003) e em diversos artigos publicados (por exemplo, Fairclough, 2000 e Fairclough, Jessop & Sayer, 2002).
O livro está dividido em sete capítulos antecedidos de Introdução e seguidos de Conclusão, Referências Bibliográficas e Índice Remissivo. São eles: 1. Globalization and language: review of academic literature; 2. My approach to globalization and language; 3. Discourses of globalization; 4. Re-scaling the nation-state; 5. The media, mediation and globalization; 6. Globalization from below; 7. Globalization, war and terrorism. Nos parágrafos que seguem, farei um breve comentário de cada um deles, buscando relacionar as discussões levadas a cabo no livro com debates anteriores, do próprio autor e de pesquisas de outros/as autores/as da área ou de áreas afins.
Embora pretenda desenvolver teoria ampla da globalização, Fairclough apresenta um foco específico nos processos de globalização na Romênia, país que tem merecido destacada atenção do pesquisador nos últimos anos. Logo na Introdução, Fairclough pontua seu interesse em desenvolver uma teoria que relacione discurso com outros elementos dos processos de globalização, afirmando que “as mudanças econômicas começaram a ocorrer [na Romênia especificamente] quando o discurso foi operacionalizado, implementado e posto em prática”. Para Fairclough, há três pontos iniciais acerca da linguagem em processos de globalização: 1. As redes, conexões e interações que cruzam fronteiras e são típicas da globalização incluem formas particulares de comunicação, gêneros especializados na interação transnacional, e dentre os elementos que atravessam fronteiras por meio desses gêneros especializados estão as representações discursivas; 2. É importante diferenciar processos concretos de globalização e discursos sobre a globalização, uma vez que o termo ‘globalização’ tornou-se proeminente em variados tipos de texto em que os processos concretos são diferentemente representados; 3. Apesar da necessidade de se fazer essa distinção entre processos e discursos, também é relevante lembrar que alguns discursos acerca da globalização não apenas representam os processos e tendências, mas guardam capacidade, sob certas condições, de contribuir para a criação de processos concretos de globalização; são uma ‘idéia-força’ nos termos de Bourdieu (1998).
Admitindo a existência de uma pluralidade de discursos sobre a globalização, Fairclough privilegia, na discussão levada a cabo no Capítulo 1, alguns discursos acadêmicos. Mesmo no âmbito da academia, não há homogeneidade de abordagens à globalização e, nesse sentido, Fairclough distingue quatro posições, embora assuma que a divisão possa ser considerada grosseira: objetivista, retoricista, ideologista e sócio-construtivista. Na postura objetivista, trata-se a globalização simplesmente como processos objetivos que cientistas sociais procuram descrever; não se reconhece a existência de um aspecto subjetivo nos processos de globalização. Essa abordagem é negada em ADC, pois o reconhecimento da faceta discursiva de processos sociais implica o reconhecimento também de seu aspecto subjetivo na representação do mundo social. Na postura retoricista, a preocupação é demonstrar como certas representações da globalização são usadas para legitimar determinadas ações políticas, como as reformas neoliberais por exemplo. Na postura ideologista, o foco é, de maneira mais sistemática, mostrar como discursos contribuem para a conquista e a sustentação da hegemonia de estratégias particulares e sua relação com grupos sociais beneficiados nessse processo. Finalmente, a postura sócio-construtivista – que Fairclough faz questão de distinguir do sócio-construcionismo – enfatiza o caráter socialmente construído das realidades sociais e a importância do discurso em sua construção.
Fairclough ressalta a consistência da abordagem sócio-construtivista com a perspectiva realista, afirmando que não se trata de considerar que a realidade social não exista independentemente de nosso conhecimento sobre ela – em uma referência clara à filosofia do RC de Bhaskar (1989; ver também Collier, 1994 e Danermark, 2002). É a essa última postura teórica face à globalização que o livro de Fairclough se coaduna. A relação entre a versão de ADC proposta por Fairclough e a filosofia bhaskariana é deixada clara nesse capítulo, o que faz do livro uma continuação de argumentos anteriormente aludidos de maneira menos específica (por exemplo, em Fairclough, 2003).
O Capítulo 2 é dedicado a tornar explícita a abordagem de Fairclough em relação à globalização. Por isso, é possível que pesquisadores/as já familiarizados/as com a proposta de ADC de Fairclough considerem esse capítulo a essência da obra. É aqui que o autor esclarece a relação de sua versão de ADC com a EPC de Jessop, para quem objetos econômicos e políticos são socialmente construídos – daí seu aspecto cultural e sua faceta subjetiva. Os processos de construção social desses objetos implicam a construção de sujeitos associados, são processos de co-construção de objetos e sujeitos. Isso significa que sistemas político-econômicos particulares (a divisão entre economia e política é negada) interconectam-se a significados particulares, interpretações, narrativas, valores, atitudes, identidades e, logo, discursos: têm uma faceta discursiva. Estratégias para controlar mudanças sociais, políticas e econômicas envolvem estratégias discursivas de criação/ manutenção de representações discursivas (discursos), formas de ação discursiva (gêneros) e identidades (estilos) que sustentem tais estratégias (esses conceitos são discutidos com mais pomenores em Fairclough, 2003). A vantagem de relacionar a ADC à EPC, para Fairclough, é a garantia do foco no discurso como uma faceta da globalização, um momento das práticas sociais nos termos de Chouliaraki & Fairclough (1999), sem perder de vista a dialética entre o momento discursivo e outros momentos não-semióticos dos processos de globalização.
Tendo esclarecido sua abordagem à globalização e a relevância do estudo de processos de globalização no âmbito da ADC, no Capítulo 3 Fairclough analisa estratégias de globalização utilizadas por agências públicas, governamentais e não-governamentais, e os discursos a elas associados. O foco fundamental do capítulo, o que se observa nos exemplos apresentados e analisados, é o discurso globalista acerca da globalização. O principal exemplo explorado é o excerto de um discurso proferido pelo sub-secretário de Estado dos Estados Unidos da América em 1999, Stuart Eizenstat, sobre o colapso econômico que se iniciou na Ásia nos anos de 1990. O globalismo é entendido como um discurso específico acerca da globalização baseado em seis asserções básicas: 1. A globalização é um processo de liberalização e integração de mercados em nível global; 2. A globalização e inevitável e irreversível; 3. Ninguém é responsável pela globalização; 4. A globalização traz benefícios universais; 5. A globalização fortalece a democracia no mundo; 6. A globalização requer uma ‘guerra contra o terrorismo’. Fairclough procede a uma análise de excertos do texto de Eizenstat, demonstrando sua vinculação ao discurso globalista da globalização. O objetivo da análise é mostrar que a força do discurso globalista reside em sua capacidade de se sustentar por meio de mudanças no conjunto de discursos a que se filia em resposta a circunstâncias, desafios e crises. Isso inclui a construção do discurso da ‘economia baseada no conhecimento’ e estratégias articuladas para sua instalação ao redor do mundo. Ainda no Capítulo 3, Fairclough apresenta alternativas ao globalismo no seio de agências governamentais e não governamentais. Um texto de Mahathir bin Mohamad, ex-primeiro ministro da Malásia, também sobre a crise econômica na Ásia na década de 1990, ilustra um discurso de resistência ao globalismo no âmbito de agências governamentais, e um texto do Manifesto ‘Make Poverty History’, organizado pela Christian Aid, provê exemplo de alternativa ao globalismo em agências não-governamentais.
O Capítulo 4 é dedicado a uma análise da transformação de escalas e da relação entre escalas na globalização, que não é vista apenas como a criação de uma escala global, mas também como a criação de novas relações entre a escala global e outras escalas (local, regional, macro-regional). O foco específico da análise apresentada é a re-escala no nível de um Estado-Nação, a Romênia, no contexto de sua adequação para integrar a União Européia e das contradições das ‘reformas’ exigidas para essa ‘transição’ e o contexto do pós-comunismo. Para discutir uma escala como um espaço em que relações econômicas, políticas e sociais são articuladas, Fairclough recorre à obra do geógrafo David Harvey, uma retomada da recontextualização teórica apresentada anteriormente em Chouliaraki & Fairclough (1999). A reorganização de escalas no contexto da globalização, teorizada tanto como substrato quanto como resultado de lutas hegemônicas, é investigada com base nas contradições experimentadas na Romênia como conseqüência de seu interesse em integrar uma macro-região e do estabelecimento de uma escala européia. A análise focaliza as reformas na educação superior, defendidas pela Convenção de Lisboa e pela Convenção de Bolonha, de acordo com o discurso da ‘economia baseada no conhecimento’. Entre os textos analisados estão um excerto da Declaração de Lisboa e o Manual de Controle de Qualidade da Universidade de Bucareste. As análises apresentadas mostram que o processo de re-escala é em parte um processo textual em que novas escalas são texturizadas – a criação de novas escalas no nível do discurso, segundo Fairclough, é uma condição necessária para que as novas escalas se tornem concretas na ação. Fairclough mostra, entre outras questões, que a mercantilização da educação – processo já tornado familiar em países centrais na União Européia, como a Inglaterra (Fairclough, 2001a) – quando imposta à Romênia implica contradições apagadas pelo processo de inserção na escala macro-regional. Ainda no Capítulo 4, outro problema de re-escala investigado é a recontextualização do discurso da União Européia sobre ‘exclusão social’ na Romênia. A ‘exclusão social’ é tratada também a partir da Declaração de Lisboa e de textos institucionais da Romênia que indicam a recontextualização das estratégias de combate à ‘exclusão’ adotadas pela União Européia. As estratégias padronizadas para a inclusão social, entretanto, quando aplicadas ao contexto da Romênia, trazem salientes contradições, devido à proporção que a pobreza atinge naquele país. As brilhantes análises apresentadas no capítulo mostram que a criação de novas escalas pode ser compreendida como uma tentativa de conformar experiências e realidades particulares, acobertando contradições e desigualdades. No que tange especificamente ao problema da precariedade social, as análises de Fairclough podem inspirar análises semelhantes em países da América Latina onde a desigualdade social também atinge níveis alarmantes, onde a ‘inclusão’ – e não a ‘exclusão’ – é a excessão.
Reconhecendo que a mídia cumpre papel fundamental nos processos de criação de novas escalas, na transformação das relações entre escalas, na construção de aparente conformidade entre diferentes padrões de realidade social, Fairclough dedica o Capítulo 5 de seu livro ao papel dos meios de comunicação no tangente à globalização. Nas sociedades contemporâneas, os ‘meios de comunicação de massa’ são considerados o principal mecanismo para a disseminação de discursos, narrativas e práticas, e para a criação de consenso e aceitação de mudanças sociais ou manutenções de estruturas. Há cinco principais reflexões nesse Capítulo 5: 1. A mídia é um elemento crucial na disseminação de notícias, informações e discursos; 2. As mensagens veiculadas não são, de modo algum, neutras; 3. O posicionamento das mensagens relaciona-se também ao monopólio de corporações midiáticas transnacionais na divulgação de notícias; 4. O impacto da mediação não pode ser tomado como dado, uma vez que depende dos contextos de distribuição e consumo (da prática discursiva, nos termos de Fairclough, 2001b); 5. A globalização dos ‘meios de comunicação de massa’ contribuiu para a criação de um ‘público global’. Os objetivos desse quinto capítulo são incluir a mídia na discussão da re-escala no contexto da globalização e debater a contribuição dos ‘meios de comunicação de massa’ para a criação desse ‘público global’. O primeiro objetivo é alcançado por meio da análise de dois exemplos: de uma propaganda política no contexto de campanha presidencial na Romênia e de um artigo da revista feminina romena correspondente à Cosmopolitan. O segundo objetivo é explorado por meio da discussão da pesquisa de Chouliaraki acerca da cobertura da mídia aos atentados de 11 de setembro de 2001, especificamente à criação de um público global para o ‘sofrimento de outros/as distantes’, como no caso de ataques terroristas, de acidentes ou de desastres naturais. O conceito de mediação adotado é o de Thompson (1995), para quem produtos midiáticos globalizados são localmente interpretados. Esse aspecto da relação dialética entre universal e particular é fundamental à análise do artigo da revista feminina na Romênia, pois Fairclough discute a contradição entre as identidades de gênero globalizadas pela revista distribuída em mais de 100 países ao redor do mundo e as possibilidades concretas de adoção desses estilos por mulheres romenas, tanto em termos econômicos quanto culturais. Isso significa que a seleção e a retenção de discursos e estilos particulares não depende apenas de sua circulação massiva, mas também de condições específicas do contexto recontextualizante – a recontextualização é sempre uma atividade situada. Pesquisas com mídia devem portanto ser capazes de reconhecer as possibilidades de resistência e ação, evitando o pressuposto da massificação.
O Capítulo 6 dedica-se justamente à discussão de contextos situados em relação à globalização, da relação dialética entre local e global, entre particular e universal. O foco são as estratégias de indivíduos ou grupos, em contextos específicos, para se defenderem dos efeitos nocivos da globalização ou para tirarem proveito das oportunidades geradas pelos processos de globalização. Mais uma vez Fairclough refere-se à teoria de Harvey sobre a relação tempo-espaço para debater a constituição de espaços específicos, sua relação com outras escalas, a criação de estratégias localizadas para lidar com questões globais – há uma relação dialética entre interesses ‘particulares’, locais, e interesses ‘gerais’, globais; e grupos envolvidos em lutas hegemônicas locais podem ser mais eficientes se desenvolverem a internalização dos recursos gerais disponíveis. A discussão nesse sexto capítulo baseia-se em três exemplos: o primeiro refere-se às estratégias de desempregados/as crônicos/as na Grã-Bretanha da era Thatcher, mostrando a apropriação do discurso neoliberal como estratégia de sobrevivência; o segundo e o terceiro exemplos referem-se às relações local/ regional/ global em termos do discurso dos riscos ambientais da ação humana: o segundo trata da disputa acerca de um incinerador de lixo na Hungria e o terceiro trata da resistência à construção de uma estação de queima de carvão na Tailândia. Fugindo à regra dos exemplos apresentados nos capítulos anteriores e da tradição analítica do trabalho de Fairclough, nesse capítulo apresentam-se (re-)análises de dados etnográficos, o que torna o capítulo especialmente interessante, sobretudo no caso da análise das estratégias de sobrevivência desenvolvidas por desempregados/as crônicos/as que internalizam o discurso neoliberal da flexibilização da economia e do mercado de trabalho para desenvolverem justificativas para uma estratégia tecnicamente classificada como ilegal: o desempenho de pequenos serviços eventuais (ou ‘bicos’ em bom português) simultaneamente ao recebimento do seguro-desemprego. Não se trata de uma estratégia de luta por transformação, mas de uma estratégia de adaptação e acomodação às realidades do desemprego crônico. As análises apresentadas nesse sexto capítulo ilustram a aproriação local de discursos globais, mostrando como a globalização contemporânea afeta a relação entre particular e universal.
O último capítulo do livro é dedicado à abordagem da guerra e do terrorismo no contexto da globalização. O foco da análise é a mudança estratégica do ‘soft power’ para o ‘hard power’ (da busca pela conquista consensual para o uso da violência, em termos de Gramsci, 1995 [1955]) e o discurso da ‘guerra contra o terror’ como uma mudança na trajetória do globalismo. Dois textos são analisados para ilustrar a discussão: um ensaio de Condoleezza Rice, secretária de Estado de G. W. Bush, e um discurso proferido por Tony Blair, primeiro ministro britânico. Ambos os textos filiam-se ao discurso da ‘guerra contra o terror’, ainda que o primeiro refira-se à invasão anglo-saxônica ao Iraque e o segundo à Guerra do Kosovo. Fairclough mapeia elementos do discurso da ‘guerra contra o terror’ nos textos, com destaque para a construção do significado ‘eixo do mal’ em oposição aos valores democráticos, por meio da construção textual da oposição entre ‘eles’ e ‘nós’ (sobre isso, ver a pesquisa de Ramalho, 2005). Os textos analisados apresentam justificativas para a guerra que evocam, segundo Fairclough, os termos de missão civilizatória utilizados para justificar o imperialismo do século XIX. Finalmente, Fairclough identifica quatro ‘temas’ principais na caracterização da mudança do discurso do ‘soft power’ para a estratégia do ‘hard power’: 1. Vivemos em uma nova era que apresenta novos riscos e exige novas respostas; 2. Os Estados Unidos da América e seus aliados encaram riscos sem precedentes que exigem medidas excepcionais; 3. Esses riscos são impostos por ‘forças do mal’; 4. Os Estados Unidos da América e seus aliados representam forças do bem cujas ações são motivadas por valores morais. Por meio dessa ficção procura-se criar a ilusão de uma guerra justa ‘contra o terror’, buscando fazer crer em motivações nobres e em conseqüências universalmente benéficas.
Na Conclusão a seu livro, Fairclough apresenta uma revisão de toda a discussão apresentada, dividindo-a em tópicos que auxiliam o estabelecimento de relações pelo/a leitor/a. Destaca-se um excelente resumo do debate teórico acerca da complexa dialética entre estrutura e ação social, questão que vem motivando não só o trabalho de Fairclough, mas também aquele de diversos teóricos da Ciência Social Crítica. Por meio da associação entre a ADC e a EPC, Fairclough procura responder a críticas que denunciam a incapacidade de análises empíricas de textos realizarem todo o potencial transdisciplinar evocado na Teoria Social do Discurso. O autor argumenta que por meio dessa relação é possível assegurar análises sistemáticas com foco no discurso como uma faceta de processos sociais (incluídos os processos de globalização), evitando o risco de um foco descontextualizado nos aspectos lingüístico-discursivos dos textos analisados ou de uma abordagem ingênua do poder sócio-construtivo do discurso.
Ao retormar o modelo para análise textual utilizado nas análises apresentadas nos capítulos centrais da obra, Fairclough justifica sua impossibilidade de oferecer análises minuciosas pelo escopo próprio ao livro. Assim fazendo, o autor resguarda-se do tipo de crítica que ele próprio levantou quando apontou a superficialidade de análises publicadas nos primeiros quatro números de Discourse & Society (Fairclough, 1999). Ainda que não tenha sido esse um objetivo do livro, pode ser interessante refletir sobre esse desafio em análises discursivas críticas: dadas as relações transdisciplinares de que dependemos para garantir a pertinência de nossas análises lingüísticas, dada a necessidade de apresentar análises lingüisticamente orientadas e contextualmente localizadas e politicamente posicionadas, dadas as limitações de espaço para publicação de análises e reflexões em periódicos, dadas as limitações de tempo a que estamos submetidos/as pelo intenso trabalho de pesquisa/ sala de aula/ publicação/ apresentação de trabalhos – condição que pode facilmente ser relacionada ao contexto dos processos de globalização, o que o próprio Fairclough não deixa de fazer quando discute o controle de qualidade do ensino superior – enfim, dada essa conjunção de fatores que torna o trabalho de analistas de discurso complexo e instigante, como conquistar o necessário equilíbrio entre a contextualização do problema, a profundidade da análise e da reflexão teórica, e a defesa de interesses ligados à justiça e à igualdade?
Embora Fairclough não tenha podido conquistar esse desejado equilíbrio em seu último livro, não há dúvida de que os objetivos por ele almejados para essa obra foram plenamente atingidos. Trata-se de leitura fundamental para pesquisadores/as já engajados/as com essa versão de ADC e que desejem acompanhar o desenvolvimento dessa linha de investigação. Language and globalization é indicado também para pesquisadores/as em ciências sociais que desejem ampliar seu foco no aspecto discursivo de problemas sociais criados nos processos de globalização. Seja feita uma advertência: de modo algum se trata de leitura indicada a iniciantes, os/as quais fazem bem em ler primeiro o livro de 2003, pelo menos.
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